SUPORTE BÁSICO DE VIDA




SOS CoRaÇãO



"Pequenos gestos que salvam vidas."


InTrOdUçÃo

  A maioria dos acidentes que provocam PCR (1) ocorrem fora dos hospitais e longe do alcance dos profissionais de saúde. Quer seja em casa, no trabalho, na estrada ou no decorrer de actividades desportivas e de lazer, o socorrista é o primeiro interveniente. O seu papel é primordial, limitado e temporário, devendo improvisar material e executar os primeiros socorros com qualidade, mesmo que suponha que a equipa especializada chegue em breve ao local.
  A sua capacidade de avaliar rapidamente a urgência da situação e a aplicação imediata dos conhecimentos são determinantes, mesmo que o seu papel seja limitado e temporário. O socorrista nunca deixa a vítima antes da chegada da equipa especializada, pois sente-se responsável por ela.

"Lembre-se que é mais proveitoso fazer alguma coisa, mesmo que não seja perfeita, do que nada tentar para salvar uma vida."
    
"Todo o cidadão devia estar preparado para realizar "Suporte Básico de Vida."


SuPoRtE bÁsIcO dE vIdA

  Conjunto de medidas de emergência que permitem salvar uma vida pela falência ou insuficiência do sistema respiratório e cardiovascular.    
  Medida de suporte cujo objectivo é manter a ventilação e circulação suficientes até conseguir meios de reverter a PCR.
  Sem oxigénio as células do cérebro morrem em 10 minutos. As lesões começam 4 minutos após a paragem respiratória.
  As manobras de SBV (2), por si só, não são suficientes para recuperar a maior parte das vítimas de PCR.


PrInCiPaIs CaUsAs De PaRaGeM cÁrDiO-rEsPiRaTóRiA

  » Asfixia
  » Intoxicação
  » Traumatismo
  » Afogamento
  » Electrocussão
  » Estado de choque
  » Doença. 


SeGuRaNçA

  Verifica-se  sempre as condições de segurança da vítima e reanimador antes de se aproximar.
  O socorrista não deve pôr a sua vida em perigo, não devendo actuar em situações que excedem as suas capacidades.

Figura 1. Locais de acidentes.

Presença de fumo no local
  Evita-se respirar esse ar e remove-se a vítima do local o mais rapidamente possível.

Vítima electrocutada
  Nesta situação, torna-se necessário interromper de imediato o contacto, desligando-se a corrente eléctrica. Não se aproxime da vítima enquanto a corrente estiver ligada. A corrente eléctrica pode-se transmitir através do corpo humano, da água, dos metais, do solo molhado e, desta forma, electrocutar quem se aproxima da vítima.

Afogamento
  Não se deve fazer o salvamento, a não ser que se tenha formação específica. Pode lançar-se ou estender-se um objecto ao qual a vítima se possa agarrar (vara comprida, corda, bóia). Se a vítima estiver demasiado longe deve-se lançar um objecto flutuante.

Derrocada
  Se houver ameaça de derrocada, deve-se  retirar a vítima do local se não existir perigo para o socorrista.

Acidente na estrada
  Utiliza-se os sinais de pré-sinalização de perigo, estaciona-se o veículo a uma distância segura, de preferência atrás do local do acidente ou do veículo acidentado e acende-se as luzes de perigo.

Vítima em contacto com matérias perigosas
  Evita-se o contacto com a substância e retira-se sempre que possível a vítima do local. Ter em atenção a direcção do vento se a substância for um gás, nesta situação deve colocar-se no sentido do vento (evita a inalação do gás).

Envenenamento ou intoxicação
  Telefona-se para o Centro de Informação Anti-Veneno (CIAV) do INEM: 808250143. Para cada situação será informado sobre as medidas que deve tomar. Procura-se informação que possa ajudar o CIAV a identificar a situação: produto, quantidade usada, hora provável do uso.

"O reanimador não deve expor-se a riscos maiores do que os da vítima."


EtApAs

  » Avaliação inicial
  » Manutenção da via aérea
  » Compressões torácicas
  » Ventilações.


AlGoRiTmO
  (Etapas a desempenhar pelo socorrista)

» Assegura-se as condições de segurança (para o socorrista)
» Avalia-se o estado de consciência da vítima (toca-se nos ombros suavemente e chama-se em voz alta).

     1. Vítima inconsciente

          » Grita-se por ajuda e pede-se a alguém para permanecer ao nosso lado
          » Abre-se a via aérea
                    » Desaperta-se as roupas no pescoço e cintura, pois podem fazer compressão a nível da
                       traqueia e diafragma
                    » Olha-se para dentro da boca da vítima e verifica-se a existência de um corpo estranho
                       (prótese dentária móvel, chiclete, etc) e se for possível remove-se
                    » Faz-se a extensão da cabeça, apoiando uma das mãos sobre a testa da vítima
                    » Levanta-se a parte óssea do maxilar inferior (queixo) com os dedos da outra mão

          » Vê-se, ouve-se e sente-se os sinais vitais da respiração durante 10 segundos
          » A vítima não respira
                    » Pesquisa-se o pulso carotídeo (pulso do pescoço) durante 10 segundos, mantendo-se a
                       extensão da cabeça com a mão
          » Com os dedos indicador e médio da outra mão localiza-se a "maça de Adão" e desliza-se
             lateralmente os dedos até se encontrar o sulco formado entre a laringe e os músculos
             do lado do pescoço.

     2. Vítima não respira nem tem pulso

          » Liga-se para o 112 e inicia-se as manobras de SBV.


PeDiDo De SoCoRrO

» Liga-se de imediato para o 112
» Deve-se informar de forma simples e clara

     » O tipo de situação
     » Localização exacta
     » Gravidade aparente da situação
     » O número, sexo e idade da(s) vítima(s)
     » Queixas principais e alterações que observa
     » A existência de qualquer situação que exija outros meios para o local, por exemplo: libertação  de 
        gases, incêndio, etc.

ExAmE dA vÍtImA

  O exame primário consiste em verificar as funções vitais.

Nota: Em caso de acidente/queda suspeitar sempre de traumatismo: é preferível não mover a vítima, no entanto, não dispensa avaliação primária.

     1. Avalia-se o estado de consciência

Figura 2. Avaliação do estado de consciência da vítima.
         
          » Abana-se os ombros da vítima suavemente
          » Pergunta-se em voz alta, "Está bem?", "Sente-se bem?"

                A. Vítima consciente 
                    
                 Consegue falar, responder às perguntas, abre os olhos espontaneamente.

                         » Coloca-se em PLS
                         » Avalia-se os perigos de vida
                         » Chama-se apoio especializado
                         » Reavalia-se frequentemente.

                B. Vítima inconsciente

                      Grita-se por ajuda e pede-se a alguém para permanecer ao nosso lado.

                     B.1. Abertura da via aérea

                         » Olha-se para dentro da boca da vítima e verifica-se a existência de objectos 
                            estranhos (prótese dentária, chiclete, etc) e se possível retira-se
                                  » Extensão da cabeça.

Figura 3. Permeabilização das vias aéreas.

                         B.1.1. Verifica-se a respiração

                         » Ver, se o tórax e abdómen se expandem
                         » Ouvir, se existem ruídos de saída de ar
                         » Sentir, na face se há saída de ar pela boca e nariz.

                                             Durante 10 segundos

Nota: não confundir arfadas ocasionais com respiração normal.

Figura 4. Verificação da respiração da vítima. VOS (3).         
                             
                              B.1.1.1. Respira

                                   » Coloca-se em PLS (PSL ajuda a desobstruir as vias respiratórias dos obstáculos
                                      naturais: secreções, vómitos, queda da língua para trás

Figura 5. Posição lateral de segurança.

Como proceder

     » Desaperta-se as roupas no pescoço, peito e cintura
     » Coloca-se lateralmente à vítima
     » Estende-se o braço da vítima do lado em que se encontra e flecte-se a perna do lado oposto ao nosso
     » Segura-se a vítima pelo ombro e pelo joelho contra-lateral
     » Roda-se para o lado de uma só vez
     » Dobra-se o braço que acompanhou o movimento e coloca-se debaixo do queixo.

Figura 6. Procedimento para colocar a vítima em PLS.

                                   » Liga-se para o 112
                                   » Avalia-se periodicamente.
                              
                              B.1.1.2. Não Respira

                                   » Avalia-se o pulso carotídeo durante 10 segundos (avalia-se um pulso de cada vez
                             nunca os dois ao mesmo tempo)
                                   » Liga-se para o 112 e inicia-se as manobras de SBV.

  Existem situações em que a vítima não respira mas tem pulso, no entanto, deve-se iniciar as manobras de SBV porque sem oxigénio o coração acaba por parar de bater.
  Em caso de dúvida se a vítima respira e/ou tem pulso inicia-se as manobras de SBV.


MaNoBrAs De SBV

     » 30 compressões
     » 2 insuflações. 

1. CoMpReSsÕeS

     » Coloca-se a base da mão no esterno na linha intermamilar
     » Coloca-se a outra mão por cima desta, entrelaça-se os dedos e levantamo-los para que só as bases 
        das mãos façam força
     » Mantêm-se os braços esticados sem dobrar os cotovelos
     » Os ombros devem ficar justamente por cima das mãos

Esta posição permite utilizar a massa corporal e não a força dos braços para comprimir o esterno.

Figura 7. Técnica para a realização das compressões torácicas.

     » O esterno deve baixar 4 a 5 cm
     »  Deve-se permitir a descompressão sem no entanto perder o contacto
     » Faz-se 30 compressões seguidas.

É útil contar em voz alta as compressões "1, 2, 3, 4, ... 30" de forma a se conseguir manter o ritmo adequado. Não se esqueça que não são os braços que exercem a força, mas sim o peso do seu corpo, caso contrário, a exaustão será precoce e a eficácia das manobras muito reduzida.

2. VeNtIlAçÕeS

     » Após as 30 compressões faz-se 2 insuflações com as vias aéreas abertas
     » Cada insuflação deve durar 2 segundos
                        
Figura 8. Técnica para a realização das ventilações.
                                  
     » Permeabiliza-se as vias aéreas
     » Aperta-se as narinas com os dedos (com o indicador e o polegar da mão que está colocada na testa
     » Adapta-se a nossa  boca à da vítima
     » Sela-se a boca e insufla-se lenta e continuamente até o tórax da vítima se "encher" de ar
     » Mantêm-se a permeabilidade das vias aéreas
     » Levanta-se a cabeça e espera-se que o tórax baixe (expiração passiva da vítima)
     » Inspira-se novamente e insufla-se outra vez pela boca.

Após a 2ª insuflação reinicia-se novo ciclo de 30 compressões torácicas e assim sucessivamente.

Figura 9. Ciclo das 30 compressões/2 insuflações.
    
  No caso de estar acompanhado pode pedir para manter a posição da cabeça, pois assim não perde tempo no posicionamento após as compressões; se estiver sozinho é obrigatório fazer sempre a manobra de hiperextensão da cabeça; no caso de estarem duas pessoas com conhecimento, é aconselhável que troquem de posição regularmente, isto é, alterar entre as compressões e ventilações.




QuAnDo PaRaR ?

  Mantêm-se o ritmo de 30 compressões/2 insuflações até:

     » Vítima recuperar
     » Ser substituído
     » Médico mande parar
     » Exaustão.

  As manobras de SBV devem ser sempre efectuadas em superfícies duras. Em caso de serem executadas manobras de PCR a um desconhecido, considerar que ele tem doenças transmissíveis. Proteger a boca (do reanimador) de possíveis contágios através dos fluidos da vítima. Se nessa altura não possuir material para se proteger, e por repugnância ou medo não quiser realizar as ventilações, execute apenas o ciclo da técnica da compressão torácica, ou seja, 30 compressões, seguidas de outras 30 compressões e assim sucessivamente.


PaRa SaBeR

  Quando existe PCR nas crianças ou em caso de afogamento da vítima, realiza-se em primeiro lugar 5 ventilações. Nas crianças, após as 5 ventilações se ela não recuperar inicia-se de imediato as manobras de SBV; nas vítimas de afogamento, após as 5 ventilações, e se estiver sozinho no local, efectua-se o primeiro ciclo de SBV (30 compressões/2 insuflações) e só depois se pede ajuda. 

  Quando suspeita de traumatismo, por exemplo da coluna cervical, em substituição da hiperextensão da cabeça, realiza-se as ventilações com a cabeça na sua posição normal, pois a hiperextensão nestes casos pode provocar lesões graves.


ObStRuÇãO dAs ViAs AéReAs

» Parcial

    Permite a passagem de algum fluxo de ar.

» Total

    Impedindo o fluxo de ar para os pulmões.

Funcionalmente
     » Anatómico (queda da língua)
     » Mecânica (corpo estranho)
     » Patológica.

1. PaRcIaL

     » A vítima consegue tossir vigorosamente
     » Encoraja-se a vítima a tossir e a continuar a respirar (ainda que seja difícil)
     » Não se interfere com o esforço da vítima para expelir o corpo estranho
     » Aconselha-se a vítima a inclinar-se para baixo, pois esta posição, ajuda o corpo estranho a sair para o 
        exterior por acção da gravidade. 
                       
  Se a vítima não recuperar, aceita-se como sendo uma obstrução completa.

2. ToTaL

     » A tosse da vítima é fraca e ineficaz
     » A inspiração produz ruído
     » Respiração difícil e com cianose (lábios, face azulados)
     » Vítima apresenta uma expressão de angústia (olhos muito abertos, boca aberta, querendo 
        desesperadamente falar, frequentemente, ambas as mãos agarram o pescoço. 

Como proceder em caso de obstrução total sem recuperação para obstrução parcial

     » Coloca-se por trás da vítima, inclinando-a um pouco para a frente e efectua-se 5  pancadas nas costas 
        com a base da palma da mão ao nível das omoplatas, ou seja, no plano médio sagital (plano da  
        coluna vertebral) a meia distância entre as omoplatas
     » Cada palmada deve ser segura

Figura 10. Técnica da pancada nas costas em caso de obstrução das vias aéreas nos adultos.


     » Nos bebés, coloca-se os pés do bebé sobre o nosso peito, cabeça para baixo e com a palma da mão 
        efectua-se a pancada 


Figura 11. Técnica da pancada nas costas no bebé.

      » Se após 5 pancadas a vítima não recuperar, efectua-se a manobra de compressão abdominal
         (Manobra de Heimlich).

Manobra de Heimlich

     » Coloca-se atrás da vítima e com os próprios braços envolve a cintura da vítima
     » Com a mão fechada em punho, coloca-se o dedo polegar contra o abdómen da vítima a meia 
        distância entre o umbigo e o apêndice xifóide
     » Com a outra mão envolve-se o punho fechado
     » Efectua-se 5 compressões abdominais
     » Cada compressão deverá ser pausada e segura.

Figura 12. Manobra de Heimlich.

Bebés, crianças até aos 8 anos, obesos e grávidas

     » Procede-se à mesma sequência, mas substitui-se as compressões abdominais por compressões 
        torácicas, pois os bebés e crianças têm maior risco de lesões abdominais; nas grávidas e obesos
        como o diafragma está mais elevado, não se consegue "abraçar" a cintura.


Figura 13. Manobra Heimlich no bebé.

Figura 14. Manobra de Heimlich nas grávidas.

  A finalidade destas manobras é gerar tosse artificial que ajude o corpo estranho a sair das vias aéreas.    
Adequa-se sempre a força às características da vítima.

Continuar com a sequência  5 pancadas/5 compressões

     » Vítima recuperar
     » Vítima ficar inconsciente (procede-se à avaliação da vítima).
              
Neste caso, se a vítima não respirar, liga-se 112 e inicia-se manobras de SBV.


CoNcLuSãO

  O SBV é uma medida de suporte que permite salvar uma vida por falência ou insuficiência do sistema respiratório e cardiovascular. Por isso, cada cidadão devia estar preparado para a realizar.
  São várias as causas de PCR, de modo que a análise do local do acidente é primordial, pois o socorrista não se deve expor a riscos maiores que os da vítima.
  Com a leitura deste texto, apercebe-se que existem várias etapas que o socorrista tem que desempenhar para tentar salvar uma vida: avaliação inicial, manutenção da via aérea, compressões torácicas e ventilações, devendo apenas parar quando a vítima recuperar, for substituído por equipa especializada e exaustão.
  Também se entende, no caso de a vítima ser uma criança ou ter sofrido afogamento, realiza-se em primeiro lugar as 5 ventilações. Na suspeita de traumatismo, nunca fazer hiperextensão da cabeça, pois existe risco de lesões mais graves.
  A obstrução das vias aéreas pode ser de dois tipos: parcial ou total. Quando esta é total, deve-se recorrer em primeiro lugar à técnica da pancada nas costas. Se depois desta prática a vítima não recuperar efectua-se a manobra de Heimlich. Após realização das compressões abdominais, se a vítima ficar inconsciente e deixar de respirar, liga-se de imediato para o 112 e inicia-se as manobras de SBV.
  Com a gestação deste texto, pretende-se que o leitor, mesmo que não tenha formação em SBV, possa, quando necessário, executar esta técnica com primazia e assim tentar SaLvAr UmA vIdA.


(1) Paragem cárdio-respiratória
(2) Suporte básico de vida
(3) Ver, ouvir, sentir.